Friday, September 22, 2006



:

é uma coisa que eu carrego todos os dias,
e eu sinto mais quando eu estou acordando,
ou quando estou cansado.
Quando olho pra casa suja, pro monte de roupa pra lavar. E lembro dos desenhos que estão parados e dos papéis que não consigo nem guardar. As vontades que ficam acumuladas e amontoadas.
Idéias que empacam. Atrofiam.
E depois penso nas contas pra pagar. E nos trabalhos chatos que eu faço no escritório e que eu queria muito viver da minha arte, mas eu não tenho nem tempo nem coragem pra fazer isso.
Assim eu sinto como se andasse pra trás.
Eu não tenho tempo. O tempo me tem.
O que eu carrego é uma angustia, todos os dias.

Eu não evoluo. Eu não avanço, eu parei. E não quero aceitar.

Preciso fazer uma troca. Preciso.
Mas agora eu nunca posso.

porque eu seu precisar, ninguém vai me sustentar.
Quero enxergar de outro jeito.ou quero agir de outra madeira
Agora eu queria tomar chuva.

Tuesday, September 12, 2006




Eu quero o que já está feito, e as vezes me sinto bem fazendo um trabalho banal, quase um trabalho que aqui chamam “artesanato”, mas não tem nada ver com o que artesanato realmente é. Aqui é essa coisa pobre que fazem as donas de casa, sem técnica nenhuma.
Gosto de algumas tarefas-bobas-para-não-pensar. Isso me diverte.

Acho que é porque eu finjo ser uma pessoa-que-não-sabe. Nada, uma pessoa que não tem noção do mundo ou do que significa bonito ou feio, só faz um trabalhinho bobo que como ensinaram pra ela é bonito, mas na verdade é uma coisa vazia... por conseqüência é enfeitada e feia.
Gosto de fugir. Da minha realidade. De fingir ser outra pessoa só pra mim.
Acho que não sei ser.
Ser me assusta.
Sempre li isso nos livros da Clarice, mas nunca tinha entendido muito bem o que isso significa, hoje entendo. Será mesmo? Nunca vou entender o que realmente era medo pra ela, muito menos medo de ser.
Se ser eu nem sei muito bem o que significa.
Mas hoje, entendendo o que isso pode ser, parece menos pesado do que quando não compreendia. Parece mais leve. Um pouco preguiçoso. Preguiçoso? Acho que não.

Gosto de inventar situações, não sei se sei inventar uma pessoa porque seria muito eu mesmo, mas gosto de inventar situações e imagens.
Lógico, imagens.

Sunday, September 10, 2006



talvez o tempo seja pouco, mas não falte. E o problema de verdade deve ser o pudor que é demais. assim tudo voltou a acontecer - primeiro experimento depois da inércia.


Falar do meu trabalho não consigo.
Mal consigo entender o que penso na verdade.
Tudo se desenvolve tão rápido até a solução, que no momento em que eu decido ... (chiudi gli occhi e non pensare) ...executar o que foi pensado, já me esqueci da brilhante idéia .Ou o tempo já passou demais e já não vale mais usar a mesma, melhor esperar por outra. O que aflige é que eu não espero por outra, eu inconscientemente não quero... bobeira minha eu devia aproveitar essa hora de criação e mudar de planos sempre que mudarem as idéias, ou mesmo permitir que as idéias mudem.

Que as idéias mudem!
Que a cultura aumente e que os parâmetros se multipliquem.

Talvez seja essa minha angustia. Ficar preso a uma idéia não executada. E arrastar a tal idéia até o fim ao invés de deixar as ideais não acabadas pelo caminho e substituí-la com idéias novas, sim faz bem deixar idéias pelo caminho e mudar os planos e colocar novas idéias no caminho e fazer até que se consiga levar e outras apareçam.

Friday, September 08, 2006



Quanto da minha angustia sobre a falta de tempo não é defesa?

Carrego sim comigo esse sentimento de estar perdendo o tempo, ou de estar perdendo algo mais. De não poder dedicar-me à arte o quanto eu gostaria.
Mas e se eu realmente tivesse tempo?
Hoje me peguei amedrontado ao pensar que se eu realmente tivesse tempo pra pintar eu não saberia o que fazer. Talvez eu travasse. Não sei.
Enquanto as idéias estão todas aqui dentro eu realmente pareço estar certo de tudo aquilo que eu quero fazer, e quando vem a hora de realizar alguma idéia, tudo muda, e eu chego a parar antes de do fim.
Existem duas possibilidades: uma é a de que eu tento fazer de qualquer trabalho o melhor, pois sei que não tenho muito tempo, então me coloco sob pressão, pois tenho que usar o pouco tempo que me sobra.
Uma sensação que eu não posso deslizar em nenhum momento.
Deslizar? Errar? Como assim? Não sei...
A outra possibilidade é que eu estou realmente perdendo o fio..., e toda vez que eu começo a fazer um novo trabalho arranjo a desculpa do tempo pra desculpar o medo de não conseguir progredir. E o medo de chegar ao fim e descobrir que não era nada daquilo.
E qual o problema? Eu sempre soube que isso não é a parte ruim, essa é a parte boa. Que o novo só chega quando se experimenta.
Vivo dias que eu não sei de nada. Vivo hoje em uma inércia tola. Inércia de um tempo vazio. Não sei como voltar. Sei que voltar não existe.
Não consigo sair deste caminho nublado.

Tuesday, September 05, 2006


Sábado, fim de tarde. Tempo pra pensar.
Sempre que eu preciso pensar, pego minha mochila, meu caderno de desenhos, meu disc-man e saio a pé (e sempre a pé), geralmente me direção ao Centro,
que no sábado ou no domingo têm ritmos diferentes, muitas coisas somem, outras aparecem. Caminhar e musica me fazem bem. Hoje não quis ir pro Centro, Hoje eu quis ser um estrangeiro na minha rotina. E assim fui, até que cheguei perto de um cinema, e o filme começava em 5 minutos, e eu entrei pra assistir de novo, dessa vez sozinho e prestar atenção. Quando saí já estava escuro, o filme eu já tinha digerido, e eu não me lembrava como era bom caminhar durante a noite pela cidade, que venta e que ilumina. Sair da sala do cinema e dar de cara com a cidade assim quente, movimentada e cheia de luz foi como se o filme ainda continuasse na minha cabeça.
Depois? – comprar uma garrafa de água e andar de volta pra casa.