Friday, October 27, 2006



"...Cause time moves in circles and can leave you anywhere"
Martha Wainwright - "don´t forget"

Três vezes ao cinema comigo mesmo em 1 semana.
Me fez perceber que isso me fazia falta. Demoirei pra perceber isso, antes me preocupava, mas na verdade me faz bem. Eu preciso estar sozinho, e isso me faz muita falta.
Das minhas caminhadas só com a musica nos headfones.
Do tempo desenhando e escrevendo nos meus cadernos sentado num café.
De sentir a cidade e rever minhas referências.

Viver com uma pessoa faz a gente esquecer de algumas coisas que na verdade nem chegamos a conhecer completamente. E, no caminho inverso, nos faz perceber essas coisas todas.

A busca de retomar o que realmente faz falta e muito boa, é muito bom entender o que se quer. E ainda melhor é saber o outro sente bem com isso também.

Quando saímos da mesma loja, um com uma revista rojo e um dvd massive attack, e o outro com o Corpo de Baile do Guimarães Rosa e um cd da Bethânia, é ai que percebo que é assim que a gente se completa e que precisamos que nossas referências não sejam paralelas, senão isso perde a graça.

A graça é a diferença. É isso que nos faz evoluir, ser homogêneo não tem graça.

Tuesday, October 10, 2006


O monte de mentiras no canto da sala
Existe uma questão ligada ao meu trabalho como arquiteto que me incomoda e eu não sei direito entender a questão. É o desejo que as pessoas têm por enfeites, por aquilo que é mentira.
Porque é assim que eu vejo as molduras de gesso que estão nos cantos da parede com o teto do apartamento onde vivo, por exemplo. Porque? Dizem que é pra “dar acabamento”, o que é intrigante, pois o papel de acabamento acaba sendo a depreciação do próprio apartamento. E podemos ver exemplos bem mais exagerados em outros edifícios novos da cidade, nos quais a questão “dar acabamento” já nem cabe.
Outro dia fui visitar a casa de uma tia, com certeza alguém que tem alguma certa preocupação com a veracidade das coisas pelo fato de trabalhar com leis e regras. Logo na sala de sua casa estava ali um “rack”, desses fabricados em série com um tom de branco envelhecido, o rack em si já era um absurdo, uma das prateleiras era na diagonal cortando todos os compartimentos e fazendo com que quase todos fossem inúteis. Pois nada para em uma tábua inclinada como todos já sabemos.
Mas a questão que eu queria falar nem é o rack, mas sim as coisas que estão em cima do tal móvel: dezenas de pecinhas de louça, toalhas rendadas, vasos sem flores, vasos com flores secas. A sensação que eu tive a olhar aquilo foi de ver um monte de mentira no canto da sala.
Porque aquelas coisas estavam ali? O uso daquilo é com certeza nulo, aqueles objetos só devem ser tocados quando é preciso tirar o pó e limpar as pecinhas. Mas parece que as pessoas gostam disso, ou simplesmente não pensam.
Acho difícil que as pessoas não pensem na própria casa. Então sobra a opção de que elas gostam. Gostam de que? Desse monte de coisa inútil, que inventam uma história de mentira, que servem pra “dar acabamento” à uma vida estranhada?
Não consigo tirar essa idéia da minha cabeça, que as pessoas gostam de viver na mentira, sim na mentira, porque viver na fantasia seria muito mais divertido e sincero.
Será que é isso? As pessoas não gostam da onde vivem e enchem a realidade do dia-a-dia de mentiras que fazem elas não prestarem atenção?

Wednesday, October 04, 2006




Estive lembrando muitas coisas bobas de quando eu era pequeno ultimamente, e de repente me deu a sensação que minha impressão de quando dura um dia e de quanto-tempo-leva é muito ligada àquela época quando o tempo passava devagar, ou sou eu que gostaria que minha relação com o tempo agora fosse a mesma que naquela época.
Depois de perceber isso a minha luta com o tempo parece diminuir, quanto-tempo-leva ficou mais claro junto com quanto-tempo-tenho.
Junto com isso veio uma decisão egoísta: os presentes que eu darei daqui em diante (até que eu tenha mais tempo), serão feitos por mim mesmo, serão meus desenhos, minhas experiências com o preto e com as embalagens e com a linguagem. Enfim, sempre achei chato quem presenteou os amigos com o próprio trabalho, mesmo porque nunca se sabe se a pessoa vai gostar do que recebe, mesmo assim resolvi começar espalhar as coisas que faço deste modo.
Felizmente a primeira das tentativas foi bem sucedida.
Espero que os amigos entendam.